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‘Grito de desespero’, foi assim que ministros do STF reconheceram o ato de Bolsonaro
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Segundo os magistrados, para o entendimento do ex-presidente e de seus aliados o cerco esta se fechando.
- Por Camilla Ribeiro
- 26/02/2024 22h32 - Atualizado há 8 meses
Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) denominaram o ato do ex-presidente Jair Bolsonaro, que aconteceu neste domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, como um “grito de desespero”.
Isso porque o avanço das investigações do roteiro sobre o golpe de Estado e do temor do ex-presidente da prisão.
Ainda de acordo com um integrante da corte, Bolsonaro antecipou sua estratégia de defesa, que chamam de “absurdo jurídico”, na tentativa de criar um ambiente junto a seus apoiadores de que não havia nada de errado em discutir uma minuta de golpe de Estado.
Ao admitir a existência da minuta do golpe por parte de Bolsonaro, durante seu discurso, um ministro do STF anotou: “mas como ele diz que ia submeter [a minuta] ao Congresso se, com golpe de Estado, quem garante que ia ter Congresso? Tinha uma versão [da minuta] até para prender o Pacheco [presidente do Senado]”.
Na Polícia Federal, Bolsonaro admitiu que está liderando o golpe. E, ao pedir anistia, reconhece também crimes investigados.
Na avaliação dos Magistrados está cada vez mais clara a mudança no entendimento de Bolsonaro e de seus aliados de que o cerco esta se fechando.
Antes, falava-se no ex-presidente como autor intelectual, como se propostas de golpe fossem apresentados a ele.
Porém, com o avanço da PF, fica cada vez mais notável que Bolsonaro estava “materializando” a proposta —nas palavras de um ministro da Corte. “Não só era ativo, como era proativo”.
Mesmo Bolsonaro evitando ataques ao STF, ministros observaram uma terceirização de ataques, numa ação coordenada, a Silas Malafaia —chamado por integrantes da Corte, nos bastidores, de 'ventríloquo".
Os investigadores analisam que existe limites até mesmo para um líder religioso como Malafaia e que caso haja uso da igreja para ataques à democracia, ele não será poupado.
Líder político da direita
Bolsonaro deixou claro mais uma vez que é o líder da direita. O ato foi articulado e utilizado como uma espécie de ordem ou instrumento para que não o abandonem.
No entanto, isso pode ter inúmeros efeitos negativos para eventuais sucessores e aliados, como é o caso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito paulistano, Ricardo Nunes, às vésperas da eleição municipal.
Até os aliados de Bolsonaro não acreditam que o ex-presidente chegará ao fim das investigações sem uma condenação.
Para o STF e a PF, a análise é de que se houver prisão, ela ocorrerá apenas após transitado em julgado, quando não há mais possibilidade de recurso.